9 de outubro de 2011


11.

Não sei se o meu reconhecimento por outro que não eu, me traz mais felicidade que aquele meu – dentro do meu eu, mas que o vê com prazer precisamente por ser criação.
E não é quase maior eu saber-me bem mais com uma geometria de muitos mais vértices do que aquela quase esfera por que me faço apresentar?
Ser mais pequena enquanto me imiscuo de fios. Só podemos realmente fingir quando sabemos aquilo que somos.
Se não, fingimos o quê e de quê? Não fingimos e é tão só outra parte de nós. Aí tudo é pleno e não somos mais do que aquilo que somos.
Se não fingir, seremos só nós e um tédio imenso de me saber um só.

10.

Se eu tivesse um mestre talvez tudo fosse mais simples. Herdando tudo o que aprendera com outro mestre eu seria uma espécie de relato vivo e moldado à sua visão. Seria tão dele que restar-me-ia tentar ser-me de alguma forma. Não vejo como pudesse ser entristecedor, o poder ser eu e outro maior. Eu teria sempre de existir e meu mestre existiria sempre – um tentando ser o outro já existido.
Sem mestre, só me sei enternecida pelo anarquismo – uns traços e umas ideias estrambólicas sem pai nem mãe a desafiar o que não vejo criado, a não ser dentro de mim.
Há algum perigo nesta leviandade, imenso se o quiseres. Como se desses á luz uma criança e a deixasses ir pelo mundo quando ela própria nem andar sabe.