4 de fevereiro de 2011

6.

Sinto em mim a desafinação de uma orquestra inteira
Como se tivesse ouvido já cem mil vezes aquele piano tocar, e fosse a primeira vez que o acompanho. Caio na apatia própria de quem já não sabe se o que sempre fez foi realmente feito por mim, se por todos aqueles que assistiam como publico.
Sinto-me um espectador do fantasma da ópera, cujos sons e intensidades relembram a vida em cena. E eu não quero tocar mais. Não quero tocar mais

5.

Talvez tenha que reconhecer que em mim todos os fins chegam mais cedo.
Sentam-se longe, naquele vão de escadas. Não os vejo, é certo, mas sinto, ainda que longe, o troçar do meu destino. Como se soubessem que vivo em ilusão, como se fossem pressagio certo de todos os meus fins. Falam entre eles e chegam a ler o jornal, enquanto me assistem temporariamente crente em alguma coisa
Fazem-me crer que é verdade, só para que sinta em contraste [a viver] o que é sentir e acreditar em qualquer coisa

3 de fevereiro de 2011

4.

Vemo-nos noutro lugar. Mas que lugar é esse?
Só me parece possível o lugar dos sonhos. Esses são universais, qualquer subconsciente ou consciente os pode ter, sendo que alguns podem mesmo chegar a sê-los. Para além disso, o sonho pode levar-nos onde quisermos. Preciso eu de viajar? Então prefiro sonhar, porque sou livre. E mesmo quando viajo, se não for pelo sonho não chego sequer a fazê-lo, porque em mim as sensações activam-se do sonho e os sonhos activam as sensações.
Crendo que o sonho é a arma do Criador, sou levado a concluir que, havendo um Criador de todas as coisas, então o sonho é anterior a tudo, talvez mesmo ao próprio Criador, pois é o lugar metafísico de tudo o que nasce e vive.
Vemo-nos pois no lugar dos sonhos.

1 de fevereiro de 2011

3.

Sou caixas apocalípticas.
Não passo de uma alma vulnerável.
Mas em mim, em vez de palavras ouvidas, resta-me o silêncio de dentro.
Tantas vezes que ele, impedido de ver, escreve desmesuradamente dentro de mim.
Já lhe pedi que me dê voz e não me deixe Cruzadas em plena batalha no meu pensamento.
É que depois dá-se o problema de eu não os querer nalgum momento, e sentir já só um palco de guerra em mim. Por isso é que eu acho que tantas vezes não consigo atingir a plenitude noutra coisa, que não neste pensamento