31 de janeiro de 2011

2.

Arde em mim qualquer coisa que não sei o que chamar, como um espelho que não reflecte imagem. Não sei sequer se será real, ou uma contradança da alma.
É um eco surdo de ser tudo o que não sou, uma vontade de respirar por outro eu, ou por mais um eu, de sentir outro chão quando olho o chão que piso. É, posso dizê-lo, uma solidão que não se vê, mas que o corpo, ainda que não esteja em contacto com ela, sente.
Como sou um experimentador de sensações, deixo que este ardor se apodere de mim, evitando qualquer movimento ou pensamento que o possa perturbar, como quem aprecia um traço sem forma. Então, percorre-me uma música sem som e o meu corpo, como quatro paredes brancas, pulsa ansiosamente como se fosse percorrido por trinta mil cavalos.

Sem comentários:

Enviar um comentário